Síndrome do coração partido: o que é, como acontece e por que afeta mais as mulheres

Um coração de papel rasgado no meio representando a síndrome do coração partido. Foto de Kelly Sikkema na Unsplash

A síndrome do coração partido, também conhecida como cardiomiopatia por estresse ou Síndrome de Takotsubo, é uma condição cardíaca transitória que pode imitar um infarto, mas tem causas e evolução diferentes. Ela foi descrita pela primeira vez no Japão, em 1990, e desde então vem sendo reconhecida com mais frequência em todo o mundo.

Origem do termo e primeiros relatos

O nome “Takotsubo” vem de um tipo de vaso japonês usado para capturar polvo. Os pacientes com a síndrome apresentam um abaulamento na parte inferior do ventrículo esquerdo do coração, algo que lembra a forma desse vaso.

A síndrome está presente em cerca de 1 a 2% dos casos de pacientes que chegam ao hospital com suspeita de infarto e exames de troponina positivos — um marcador de dano ao músculo cardíaco coletado no sangue.

Diferença entre infarto e síndrome do coração partido

Embora os sintomas possam ser parecidos (dor no peito, falta de ar, alterações no eletrocardiograma e elevação de marcadores cardíacos), a cardiomiopatia por estresse não envolve obstruções significativas nas artérias do coração. Em vez disso, há uma disfunção temporária do músculo cardíaco, geralmente reversível em poucos dias ou semanas.

Quem pode ser afetado?

A síndrome do coração partido pode ocorrer após eventos emocionais ou físicos intensos, como:

* Morte de um ente querido

* Acidentes graves

* Cirurgias

* Crises de raiva ou susto extremo

* Condições médicas como sepse

No entanto, estudos mostram que essa síndrome afeta mais as mulheres, principalmente após a menopausa.

Fatores de risco: mulheres e idade

Dados do Registro Internacional de Takotsubo, que avaliou 1.750 pacientes em centros da Europa e Estados Unidos, revelaram que:

* 89,9% dos pacientes eram mulheres

* A idade média era de 66,4 anos

Outras revisões apontam que entre 80% e 100% dos casos ocorrem em mulheres com idade média entre 61 e 76 anos.  Acredita-se que a queda nos níveis de estrogênio após a menopausa possa influenciar na vulnerabilidade ao estresse cardíaco, mas os mecanismos ainda não são totalmente compreendidos.

O que acontece com o coração?

Durante um episódio de cardiomiopatia por estresse, o ventrículo esquerdo, responsável por bombear o sangue para o corpo, apresenta um movimento anormal: a porção média e inferior do ventrículo se contrai pouco ou nada, enquanto a base do coração se contrai normalmente — isso dá origem à imagem típica de abaulamento da parte inferior do coração.

Mecanismos possíveis

Embora ainda não haja consenso, várias hipóteses foram propostas para explicar como acontece:

* Excesso de hormônios do estresse, como adrenalina

* Alterações na circulação sanguínea nos pequenos vasos do coração

* Espasmo das artérias que irrigam o coração

* Obstrução no ventrículo esquerdo

Curiosamente, estudos mostram que essa disfunção é transitória: em um estudo com pacientes internados na UTI sem diagnóstico cardíaco prévio, 28% apresentaram alteração do ventrículo esquerdo que normalizou em cerca de 7 dias em 77% desses casos.

Qual é o prognóstico?

Apesar da apresentação alarmante, a maioria dos pacientes com síndrome do coração partido se recupera completamente, com função cardíaca retornando ao normal em poucos dias ou semanas. No entanto, complicações podem ocorrer em alguns casos.

Conclusão

A síndrome do coração partido é uma condição real, com implicações importantes na saúde cardiovascular, especialmente entre mulheres na menopausa. Compreender os sinais, os gatilhos e a natureza reversível da doença pode ajudar tanto pacientes quanto profissionais de saúde a diferenciá-la de um infarto verdadeiro e a iniciar o tratamento adequado o quanto antes.

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