Atraso no Desenvolvimento: Por Que a Identificação Precoce é Essencial

Crianças brincando com cubos contendo letras do alfabeto, representando atividades do desenvolvimento infantil

Você sabia que cerca de 1 em cada 6 crianças têm algum tipo de atraso ou deficiência no desenvolvimento? No entanto, muitos desses casos só são identificados depois que a criança entra na escola — quando os sinais já eram evidentes há muito tempo. A boa notícia é que existe um processo eficaz para identificar esses atrasos desde os primeiros meses de vida: a vigilância e o rastreamento do desenvolvimento infantil.

Como acompanhar o desenvolvimento

O acompanhamento do desenvolvimento (também chamado de vigilância) deve ser feito em todas as consultas de rotina do bebê, mesmo quando não há queixas aparentes. Trata-se de uma observação contínua feita pelo profissional de saúde, que inclui escutar as preocupações dos pais, observar interações entre a criança e o cuidador, manter um histórico de desenvolvimento e identificar fatores de risco e proteção.

E o rastreamento?

O rastreamento, por outro lado, é feito com testes padronizados para identificar crianças que, mesmo sem sintomas claros, estão em risco de apresentar um atraso. Esses testes são fundamentais para garantir que nenhuma criança fique sem avaliação por falta de sinais óbvios.

> 💡 Saiba por que o rastreamento é tão importante — e como ele pode mudar o futuro de uma criança. Descubra os benefícios e o impacto real dessa prática neste outro post.

Qual a diferença entre acompanhamento e rastreamento?

Embora muitas vezes usados como sinônimos, acompanhamento e rastreamento do desenvolvimento infantil são estratégias distintas e complementares. O acompanhamento (ou vigilância) é um processo contínuo, realizado em todas as consultas de rotina, no qual o profissional de saúde observa o desenvolvimento da criança ao longo do tempo. Envolve conversar com os cuidadores sobre suas preocupações, revisar marcos do desenvolvimento, observar a interação da criança com os adultos e registrar tudo isso no prontuário. Já o rastreamento é uma etapa pontual e estruturada, feita em momentos específicos usando testes padronizados, com o objetivo de identificar precocemente crianças que não apresentam sinais óbvios de atraso, mas que podem estar em risco. Em resumo, enquanto o acompanhamento é parte do cuidado contínuo, o rastreamento é uma triagem ativa para garantir que nenhuma criança com atraso passe despercebida.

Por quê ficar atento?

Os benefícios de identificar atrasos precocemente são amplos. Estudos mostram que quanto antes a intervenção começa, melhores são os resultados. Crianças que recebem estímulos e apoio nos primeiros anos de vida têm maior chance de alcançar seu potencial, com menor necessidade de educação especial, melhor desempenho escolar e até mais oportunidades no mercado de trabalho no futuro.

Além disso, o diagnóstico precoce permite tratar condições médicas de base (como distúrbios metabólicos ou neurológicos), orientar as expectativas dos pais, aliviar ansiedades e promover um ambiente mais favorável ao desenvolvimento da criança.

Por isso, mesmo que seu filho pareça estar se desenvolvendo bem, nunca subestime a importância do acompanhamento pediátrico regular. Aproveite as consultas para tirar dúvidas, relatar mudanças e pedir orientações. Os primeiros anos de vida são uma janela de oportunidade única — e perdê-la pode ter consequências duradouras.

Conclusão:

O desenvolvimento infantil é um processo complexo, e cada criança tem seu próprio ritmo. Mas isso não significa que os sinais de alerta devam ser ignorados. Vigilância e rastreamento são ferramentas essenciais para garantir que todas as crianças tenham a chance de crescer e se desenvolver plenamente. Fique atento, acompanhe e, acima de tudo, participe ativamente desse processo.


REFERÊNCIAS 

  1. Centers for Disease Control and Prevention. Developmental Disabilities. Available at: https://www.cdc.gov/ncbddd/developmentaldisabilities/ (Accessed on September 16, 2017).
  2. Lipkin PH, Macias MM, COUNCIL ON CHILDREN WITH DISABILITIES, SECTION ON DEVELOPMENTAL AND BEHAVIORAL PEDIATRICS. Promoting Optimal Development: Identifying Infants and Young Children With Developmental Disorders Through Developmental Surveillance and Screening. Pediatrics 2020; 145.
  3. Dworkin PH. British and American recommendations for developmental monitoring: the role of surveillance. Pediatrics 1989; 84:1000.
  4. Canadian Task Force on Preventive Health Care. Recommendations on screening for developmental delay. CMAJ 2016; 188:579.
  5. National Center on Birth Defects and Developmental Disabilities (NCBDDD) Fiscal Year 2018 Annual Report. www.cdc.gov/ncbddd/aboutus/report/ (Accessed on July 31, 2019).
  6. Boyle CA, Boulet S, Schieve LA, et al. Trends in the prevalence of developmental disabilities in US children, 1997-2008. Pediatrics 2011; 127:1034.
  7. Zablotsky B, Black LI, Blumberg SJ. Estimated Prevalence of Children With Diagnosed Developmental Disabilities in the United States, 2014-2016. NCHS Data Brief 2017; :1.
  8. Guevara JP, Gerdes M, Localio R, et al. Effectiveness of developmental screening in an urban setting. Pediatrics 2013; 131:30.
  9. Schonwald A, Huntington N, Chan E, et al. Routine developmental screening implemented in urban primary care settings: more evidence of feasibility and effectiveness. Pediatrics 2009; 123:660.
  10. Hix-Small H, Marks K, Squires J, Nickel R. Impact of implementing developmental screening at 12 and 24 months in a pediatric practice. Pediatrics 2007; 120:381.
  11. Anderson LM, Shinn C, Fullilove MT, et al. The effectiveness of early childhood development programs. A systematic review. Am J Prev Med 2003; 24:32.
  12. Barnett WS. Long-term cognitive and academic effects of early childhood education on children in poverty. Prev Med 1998; 27:204.
  13. Palfrey JS, Hauser-Cram P, Bronson MB, et al. The Brookline Early Education Project: a 25-year follow-up study of a family-centered early health and development intervention. Pediatrics 2005; 116:144.
  14. Campbell FA, Pungello EP, Miller-Johnson S, et al. The development of cognitive and academic abilities: growth curves from an early childhood educational experiment. Dev Psychol 2001; 37:231.
  15. Shonkoff JP, Hauser-Cram P. Early intervention for disabled infants and their families: a quantitative analysis. Pediatrics 1987; 80:650.
  16. Reynolds AJ, Temple JA, Robertson DL, Mann EA. Long-term effects of an early childhood intervention on educational achievement and juvenile arrest: A 15-year follow-up of low-income children in public schools. JAMA 2001; 285:2339.
  17. van Agt HM, van der Stege HA, de Ridder-Sluiter H, et al. A cluster-randomized trial of screening for language delay in toddlers: effects on school performance and language development at age 8. Pediatrics 2007; 120:1317.
  18. Effectiveness of early special education for handicapped children. Colorado Department of Education, CO 1983.
  19. National Research Council and Institute of Medicine, Committee on Integrating the Science of Early Childhood Development. From Neurons to Neighborhoods: The Science of Early Childhood Development. Shonkoff JP, Phillips DA, eds. National Academies Press, Washington, DC, 2000. Available at: https://www.nap.edu/read/9824/chapter/1 (Accessed on July 31, 2019).
  20. First LR, Palfrey JS. The infant or young child with developmental delay. N Engl J Med 1994; 330:478.
  21. Traube DE, Palmer Molina A, Taylor A, et al. Caregiver experiences of developmental screening. Child Care Health Dev 2021; 47:319.
  22. Schonwald A, Horan K, Huntington N. Developmental screening: is there enough time? Clin Pediatr (Phila) 2009; 48:648.
  23. Evidence and Rationale. In: Bright Futures: Guidelines for Health Supervision of Infants, Children, and Adolescents, 4, Hagan JF, Shaw JS, Duncan PM (Eds), American Academy of Pediatrics, Elk Grove Village 2017. p.275.
  24. Pulsifer MB, Hoon AH, Palmer FB, et al. Maternal estimates of developmental age in preschool children. J Pediatr 1994; 125:S18.
  25. Glascoe FP, Dworkin PH. The role of parents in the detection of developmental and behavioral problems. Pediatrics 1995; 95:829.
  26. Glascoe FP, Sandler H. Value of parents’ estimates of children’s developmental ages. J Pediatr 1995; 127:831.
  27. King TM, Rosenberg LA, Fuddy L, et al. Prevalence and early identification of language delays among at-risk three year olds. J Dev Behav Pediatr 2005; 26:293.
  28. Zubler JM, Wiggins LD, Macias MM, et al. Evidence-Informed Milestones for Developmental Surveillance Tools. Pediatrics 2022; 149.
  29. Bithoney WG, Dubowitz H, Egan H. Failure to thrive/growth deficiency. Pediatr Rev 1992; 13:453.
  30. Sameroff AJ, Seifer R, Barocas R, et al. Intelligence quotient scores of 4-year-old children: social-environmental risk factors. Pediatrics 1987; 79:343.
  31. King EH, Logsdon DA, Schroeder SR. Risk factors for developmental delay among infants and toddlers. Child Health Care 1992; 21:39.
  32. Rosenberg SA, Zhang D, Robinson CC. Prevalence of developmental delays and participation in early intervention services for young children. Pediatrics 2008; 121:e1503.
  33. Slomski A. Chronic mental health issues in children now loom larger than physical problems. JAMA 2012; 308:223.
  34. McPhillips M, Jordan-Black JA. The effect of social disadvantage on motor development in young children: a comparative study. J Child Psychol Psychiatry 2007; 48:1214.
  35. Ozkan M, Senel S, Arslan EA, Karacan CD. The socioeconomic and biological risk factors for developmental delay in early childhood. Eur J Pediatr 2012; 171:1815.
  36. Nelson BB, Dudovitz RN, Coker TR, et al. Predictors of Poor School Readiness in Children Without Developmental Delay at Age 2. Pediatrics 2016; 138.
  37. Charkaluk ML, Rousseau J, Calderon J, et al. Ages and Stages Questionnaire at 3 Years for Predicting IQ at 5-6 Years. Pediatrics 2017; 139.

Rolar para cima