
Você sabia que os meses de inverno estão associados a um aumento nos casos de infarto e mortes cardíacas? Estudos ao redor do mundo revelam que o frio afeta a saúde do coração, especialmente em pessoas com histórico de doenças cardiovasculares.
Infarto no inverno: um perigo maior no inverno
A síndrome coronariana aguda (SCA) inclui quadros graves como o infarto e a angina instável. Durante o inverno, os casos aumentam de forma significativa:
- Um estudo europeu com mais de 260 mil casos de infarto mostrou que 53% dos episódios ocorreram no inverno ou primavera, comparado ao verão.
- As mortes por infarto também seguem esse padrão sazonal: mais comuns nos meses mais frios, com até 30% de diferença.
- Até as hospitalizações por insuficiência cardíaca aumentam nessa época, muitas vezes associadas a infecções respiratórias.
Fatores emocionais e o frio: uma combinação de risco
Além do frio em si, o inverno costuma vir acompanhado de mais estresse, tristeza e isolamento social — fatores psicossociais que podem desencadear ou agravar problemas cardíacos. Emoções intensas estão ligadas a eventos como infarto e cardiomiopatia de Takotsubo (conhecida como “síndrome do coração partido”).
Segunda-feira e inverno: os dias mais críticos para o coração
O risco de paradas cardíacas também segue um padrão curioso:
- Pico de ocorrências nas segundas-feiras
- Maior incidência nos meses frios
Um estudo com mais de 220 mil mortes por doença cardíaca mostrou que as mortes no inverno foram 33% mais altas do que nos meses de verão.
Porque isso acontece
O inverno impacta a saúde do coração por uma combinação de fatores fisiológicos, ambientais e emocionais. Aqui estão os principais motivos:
1. Vasoconstrição provocada pelo frio
Quando a temperatura cai, o corpo tenta conservar calor. Para isso, os vasos sanguíneos se contraem (vasoconstrição), principalmente nas extremidades. Isso aumenta a pressão arterial e sobrecarrega o coração, o que pode desencadear um infarto em pessoas com artérias já comprometidas, levar a crises de hipertensão e piorar quadros de insuficiência cardíaca.
2. Aumento de infecções respiratórias
O frio favorece infecções como gripes e pneumonias, que aumentam a inflamação no organismo e exigem mais do coração. Isso é especialmente perigoso para pessoas com insuficiência cardíaca, que podem descompensar.
3. Estresse, tristeza e isolamento
No inverno, há uma tendência maior à depressão sazonal, ao isolamento social e ao sedentarismo. Esses fatores aumentam o risco de eventos cardiovasculares, a chance de desenvolver síndrome do coração partido (takotsubo) e a dificuldade em controlar doenças como hipertensão e diabetes.
4. Alimentação e estilo de vida
No inverno, é comum comer alimentos mais gordurosos e reduzir a atividade física, dormindo mais e se movendo menos. Tudo isso pode elevar o colesterol, a glicose e o peso corporal, fatores que sobrecarregam o coração.
5. Diminuição da luz solar e da vitamina D
Menos exposição solar = menos vitamina D, que tem papel importante na saúde cardiovascular, no controle da pressão arterial e na função do sistema imunológico.
Cuidados essenciais no inverno
Se você ou alguém próximo tem fatores de risco como hipertensão, diabetes, histórico familiar de doenças cardíacas ou já teve um evento cardíaco anterior, fique atento no frio. Veja algumas dicas:
- Agasalhe-se bem para evitar mudanças bruscas de temperatura
- Evite esforços físicos intensos ao ar livre nos dias mais frios
- Mantenha a medicação em dia e siga o plano de saúde com o cardiologista
- Alimente-se bem e mantenha-se ativo, mesmo dentro de casa
- Cuide da saúde emocional – estresse e tristeza também afetam o coração
Veja mais:
> 💡 Síndrome do coração partido: o que é, como acontece e por que afeta mais as mulheres
Referências
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