Cafeína na Gravidez: Quais os Riscos Reais para o Bebê e para a Mãe?

Cafeína na gravidez. Foto de Matias Eduardo na Unsplash

A cafeína está presente no café, chá, chocolate e refrigerantes, sendo uma substância amplamente consumida no mundo todo. Mas, durante a gravidez, é comum surgir a dúvida: é seguro continuar consumindo cafeína? Vamos explorar o que os estudos científicos mais recentes mostram sobre os efeitos da cafeína na gravidez.

Efeitos no Feto: o que dizem os estudos

  • Atividade Fetal: Mesmo pequenas quantidades de cafeína, como um espresso ou um pedaço de chocolate amargo, podem estimular o feto, aumentando a variabilidade da frequência cardíaca e os movimentos respiratórios.
  • Malformações Congênitas: O consumo moderado de cafeína (menos de 5 mg/kg por dia) não está associado a um aumento consistente no risco de malformações. Estudos que sugerem essa ligação apresentam falhas metodológicas e não relacionam os efeitos com a quantidade da dose de cafeína.
  • Baixo Peso ao Nascer: Há evidências de que a ingestão crescente de cafeína pode aumentar o risco de o bebê nascer com peso inferior a 2.500g. A cada 100 mg adicionais de cafeína por dia, o risco aumenta entre 3% e 13%. Ainda assim, esse efeito é mais evidente em consumos mais altos.
  • Parto Prematuro: A maioria dos estudos não encontrou associação entre o consumo de cafeína e parto prematuro (antes de 37 semanas). A recomendação geral é de cautela, especialmente em altas doses.
  • Óbito Fetal: Até o momento, não há evidências sólidas que associem diretamente o consumo de cafeína com risco de morte fetal.

Efeitos na Mãe

  • Diabetes Gestacional: Surpreendentemente, o consumo moderado de café foi associado a um menor risco de diabetes gestacional em alguns estudos. Esse efeito não foi observado com chás, refrigerantes ou café descafeinado.
  • Hipertensão Gestacional e Pré-eclâmpsia: O consumo de cafeína parece alterar discretamente a pressão arterial. Curiosamente, alguns dados sugerem que a cafeína pode ter efeito protetor contra a pré-eclâmpsia.
  • Resistência à Insulina: Alguns estudos laboratoriais mostraram que a cafeína pode reduzir a sensibilidade à insulina, isto é, a insulina funcionaria com “menor potência”. Contudo, os efeitos no ser humano ainda não são totalmente compreendidos.
  • Depressão Pós-parto: Até o momento, não foi encontrada associação entre o consumo de cafeína durante a gestação e sintomas de depressão após o parto.

Afinal, o que é seguro?

A recomendação mais aceita por especialistas é de moderação: até 200–300 mg de cafeína por dia, o equivalente a 1 a 2 xícaras de café coado. Essa quantidade é considerada segura para a maioria das gestantes e ajuda a evitar potenciais riscos ao bebê. Veja aqui uma lista com alguns produtos que possuem cafeína e a quantidade por 100ml.

Conclusão

Embora o consumo moderado de cafeína não esteja claramente associado a riscos graves, doses mais elevadas podem impactar o peso ao nascer e outros aspectos do desenvolvimento fetal. Como cada gestação é única, o ideal é discutir seu consumo de cafeína com seu obstetra ou nutricionista.


REFERÊNCIAS

  1. Mulder EJ, Tegaldo L, Bruschettini P, Visser GH. Foetal response to maternal coffee intake: role of habitual versus non-habitual caffeine consumption. J Psychopharmacol 2010; 24:1641.
  2. Devoe LD, Murray C, Youssif A, Arnaud M. Maternal caffeine consumption and fetal behavior in normal third-trimester pregnancy. Am J Obstet Gynecol 1993; 168:1105.
  3. McGowan J, Devoe LD, Searle N, Altman R. The effects of long- and short-term maternal caffeine ingestion on human fetal breathing and body movements in term gestations. Am J Obstet Gynecol 1987; 157:726.
  4. Salvador HS, Koos BJ. Effects of regular and decaffeinated coffee on fetal breathing and heart rate. Am J Obstet Gynecol 1989; 160:1043.
  5. Buscicchio G, Piemontese M, Gentilucci L, et al. The effects of maternal caffeine and chocolate intake on fetal heart rate. J Matern Fetal Neonatal Med 2012; 25:528.
  6. Brent RL, Christian MS, Diener RM. Evaluation of the reproductive and developmental risks of caffeine. Birth Defects Res B Dev Reprod Toxicol 2011; 92:152.
  7. Peck JD, Leviton A, Cowan LD. A review of the epidemiologic evidence concerning the reproductive health effects of caffeine consumption: a 2000-2009 update. Food Chem Toxicol 2010; 48:2549.
  8. Nawrot P, Jordan S, Eastwood J, et al. Effects of caffeine on human health. Food Addit Contam 2003; 20:1.
  9. Browne ML. Maternal exposure to caffeine and risk of congenital anomalies: a systematic review. Epidemiology 2006; 17:324.
  10. Williford EM, Howley MM, Fisher SC, et al. Maternal dietary caffeine consumption and risk of birth defects in the National Birth Defects Prevention Study, 1997-2011. Birth Defects Res 2023; 115:921.
  11. Martin TR, Bracken MB. The association between low birth weight and caffeine consumption during pregnancy. Am J Epidemiol 1987; 126:813.
  12. Fortier I, Marcoux S, Beaulac-Baillargeon L. Relation of caffeine intake during pregnancy to intrauterine growth retardation and preterm birth. Am J Epidemiol 1993; 137:931.
  13. Fenster L, Eskenazi B, Windham GC, Swan SH. Caffeine consumption during pregnancy and fetal growth. Am J Public Health 1991; 81:458.
  14. Jarosz M, Wierzejska R, Siuba M. Maternal caffeine intake and its effect on pregnancy outcomes. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol 2012; 160:156.
  15. Clausson B, Granath F, Ekbom A, et al. Effect of caffeine exposure during pregnancy on birth weight and gestational age. Am J Epidemiol 2002; 155:429.
  16. Grosso LM, Rosenberg KD, Belanger K, et al. Maternal caffeine intake and intrauterine growth retardation. Epidemiology 2001; 12:447.
  17. Parazzini F, Chiaffarino F, Chatenoud L, et al. Maternal coffee drinking in pregnancy and risk of small for gestational age birth. Eur J Clin Nutr 2005; 59:299.
  18. Santos IS, Matijasevich A, Valle NC. Mate drinking during pregnancy and risk of preterm and small for gestational age birth. J Nutr 2005; 135:1120.
  19. Chen LW, Fitzgerald R, Murrin CM, et al. Associations of maternal caffeine intake with birth outcomes: results from the Lifeways Cross Generation Cohort Study. Am J Clin Nutr 2018; 108:1301.
  20. Chen LW, Wu Y, Neelakantan N, et al. Maternal caffeine intake during pregnancy is associated with risk of low birth weight: a systematic review and dose-response meta-analysis. BMC Med 2014; 12:174.
  21. Rhee J, Kim R, Kim Y, et al. Maternal Caffeine Consumption during Pregnancy and Risk of Low Birth Weight: A Dose-Response Meta-Analysis of Observational Studies. PLoS One 2015; 10:e0132334.
  22. Higdon JV, Frei B. Coffee and health: a review of recent human research. Crit Rev Food Sci Nutr 2006; 46:101.
  23. Bech BH, Obel C, Henriksen TB, Olsen J. Effect of reducing caffeine intake on birth weight and length of gestation: randomised controlled trial. BMJ 2007; 334:409.
  24. Gleason JL, Tekola-Ayele F, Sundaram R, et al. Association Between Maternal Caffeine Consumption and Metabolism and Neonatal Anthropometry: A Secondary Analysis of the NICHD Fetal Growth Studies-Singletons. JAMA Netw Open 2021; 4:e213238.
  25. Maslova E, Bhattacharya S, Lin SW, Michels KB. Caffeine consumption during pregnancy and risk of preterm birth: a meta-analysis. Am J Clin Nutr 2010; 92:1120.
  26. Jahanfar S, Jaafar SH. Effects of restricted caffeine intake by mother on fetal, neonatal and pregnancy outcomes. Cochrane Database Syst Rev 2015; :CD006965.
  27. Matijasevich A, Santos IS, Barros FC. Does caffeine consumption during pregnancy increase the risk of fetal mortality? A literature review. Cad Saude Publica 2005; 21:1676.
  28. Adeney KL, Williams MA, Schiff MA, et al. Coffee consumption and the risk of gestational diabetes mellitus. Acta Obstet Gynecol Scand 2007; 86:161.
  29. Hinkle SN, Laughon SK, Catov JM, et al. First trimester coffee and tea intake and risk of gestational diabetes mellitus: a study within a national birth cohort. BJOG 2015; 122:420.
  30. Hinkle SN, Gleason JL, Yisahak SF, et al. Assessment of Caffeine Consumption and Maternal Cardiometabolic Pregnancy Complications. JAMA Netw Open 2021; 4:e2133401.
  31. Tunnicliffe JM, Shearer J. Coffee, glucose homeostasis, and insulin resistance: physiological mechanisms and mediators. Appl Physiol Nutr Metab 2008; 33:1290.
  32. Beaudoin MS, Graham TE. Methylxanthines and human health: epidemiological and experimental evidence. Handb Exp Pharmacol 2011; :509.
  33. Robinson LE, Spafford C, Graham TE, Smith GN. Acute caffeine ingestion and glucose tolerance in women with or without gestational diabetes mellitus. J Obstet Gynaecol Can 2009; 31:304.
  34. Biaggioni I, Davis SN. Caffeine: a cause of insulin resistance? Diabetes Care 2002; 25:399.
  35. Laughon SK, Powers RW, Roberts JM, et al. Caffeine and insulin resistance in pregnancy. Am J Perinatol 2011; 28:571.
  36. Bakker R, Steegers EA, Raat H, et al. Maternal caffeine intake, blood pressure, and the risk of hypertensive complications during pregnancy. The Generation R Study. Am J Hypertens 2011; 24:421.
  37. Dagher RK, Shenassa ED. Prenatal health behaviors and postpartum depression: is there an association? Arch Womens Ment Health 2012; 15:31.

Rolar para cima